sábado, 31 de março de 2012

Ginga e fala gíria, gíria não, dialeto

No dia-a-dia, a mulher é criada desde pequena dentro de padrões que não permitem que ela pule muros, brigue na escola, fale alto ou desrepeite um homem. Quando crescidas, esses padrões aumentam, elas não podem falar palavrão, arrotar, usar gírias ou determinadas roupas e as mulheres ditas livres geralmente são chamadas de vagabundas ou putas.
Sendo assim, em nossa mente, são implantados pensamentos separatistas e cruéis, que não permitem que sejamos quem desejamos ser, simplesmente porque algumas ações são julgadas como feias pela sociedade.
Porém, analisando a história mundial, entendemos que ao contrário do homem, por ter passado por diversos tipos de situações e opressão, a mulher conseguiu fazer sua própria revolução, ao contrário do homem que desde os primórdios vem caminhando da mesma maneira.
Conseguimos alcançar o direito a escola, a usar calças, ao voto, ao trabalho e até mesmo ao trabalho com registro em carteira. Lembrando é claro, que ainda nos falta muito, para que tudo isso seja exatamente de acordo com o sexo oposto. Movimentos como o hip hop, punk rock, o samba e tantos outros auxiliaram nessa emancipação. Mesmo assim, observando todas essas ações e outras mais, como ser livre que somos todos, ainda julgam feio agir ou se falar da forma que se quer.
Observo homens falando que a mulher que fala gíria e palavrão está errada, mas vejo esses mesmos homens se deslumbrando ao conhecer uma garota que foge de determinadas regras sociais. A gíria antes de ser simplesmente uma forma de falar por falar, tem um contexto preenchido de carga cultural, e cada indivíduo a usa de acordo com o ambiente em que convive e algumas vezes até região.
Se podemos pensar que uma garota que usa gírias não pode ser doce ou gentíl em seus momentos de intimidade, entre a família ou amigos, então podemos ter certeza de que um homem será incapaz de dizer eu te amo, já que nos foi dito que só eles podem usá-las.
Claro que à partir desse texto, poderão soar aqueles comentários de sempre, de que as mulheres querem virar homens, mas deixo esses pensamentos para os que temem que isso realmente aconteça no futuro, pois da forma que o mundo vem andando, já sabemos ao menos quem vai liderar uma boa parte dele.

E para os que julgarão o texto como "coisa típica de mulher", para entender como as coisas são, basta passar uma semana com uma vulva entre as pernas.


"Mas não, permaneço vivo
Prossigo a mística
Vinte e sete anos contrariando a estatística"
Racionais Mc's - Capítulo 4 versículo 3

Por Aline Souza

quinta-feira, 22 de março de 2012

A verdade é que você: Tem sangue crioulo!

Me lembro de ter lido uma matéria na Revista Ou não, que continha a seguinte frase: "Todo africano carrega o orgulho de dizer de boca cheia 'sou africano', independente do país" Bukassa Kabengeao (músico e ator).
Porém, no Brasil, a coisa é diferente. Li essa frase algumas vezes, e penso que vivemos em um país onde os negros continuam a ser discriminados diariamente, desde piadinhas na escola até o fato de pessoas não se sentarem ao seu lado no ônibus, ou agarrarem a bolsa com força ao passar ao lado de um negro na rua.
Além desses fatores que ocorrem diariamente, uma coisa que me preocupa é o fato de que o negro não cresce sabendo de tudo isso, que infelizmente, ele poderá estar andando em seu próprio carro, dentro do limite de velocidade e que ainda assim o policial poderá pedir que ele pare, simplesmente para uma checagem de rotina, ou por algum motivo suspeito que pode ser somente a cor de sua pele.
Eu mesma, cresci ouvindo e ouço até  hoje das pessoas que sou morena clara e que meu cabelo é "bom".

O que elas não sabem é que quando você realmente se encontra dentro de um determinado grupo, entende sua importância e influência para a formação de sua sociedade e que cada povo tem a sua própria identidade não existe isso de cabelo bom ou ruim, bonito ou feio, mas que é tudo uma questão de diferenças, e que essas são muito importantes. Esse tipo de entendimento e valorização da própria cultura pode influenciar todo o resto.

Falando resumidamente, há hoje, um grupo de negros em nosso país que não entendeu que é negro, ou que, por aprender ao longo da vida que ser negro é fazer parte de uma minoria, ou que talvez seja fazer parte de algum grupo inferior, tenta lutar contra isso. Claro que isso tudo é resultado de um tanto de informações que são ocultadas na escola ou aplicadas de forma incorreta.
Há negros no país, em sua maioria, que não sabem que foi Zumbi, que não entendem a importância do Dia da Consciência negra, que fantasiam um fim do racismo, pensam que ele acabou lá atrás, na abolição da escravatura, e que sentem vergonha das favelas, sem entender os reais motivos dessas existirem e acham que é normal receber alguns tipos de "tratamentos" discriminatórios no dia-a-dia.
Hoje, nas propagandas, são quatro brancos para um negro, sendo que nas ruas são quatro negros para um branco, então, o que será que está errado?
A luta contra o preconceito deve existir, mas antes dela, deve haver uma reflexão interna sobre a sua própria identidade quanto indivíduo.

O negro não está estampado somente na melanina da pele, nos traços do nariz, dos lábios grossos, no cabelo, no tipo físico, não deve ser julgado como minoria ou ser motivo de inferiorização.
Para nós que vivemos no país da miscigenação, o negro deve ser lembrado e valorizado. Pode ser qualquer um e está em tudo.


"Somos todos juntos uma miscigenação
E não podemos fugir da nossa etnia
Índios, brancos, negros e mestiços
Nada de errado em seus princípios
O seu e o meu são iguais
Corre nas veias sem parar" 


Etnia - Chico Science e Nação Zumbi





Por Aline Souza

domingo, 18 de março de 2012

Lei do Psiu!

Entre um papo e outro, entre um riso e outro, quando o papo entre amigas é machismo, sempre caímos no mesmo problema: O psiu! Mas também, tem outros como, gostosa, delícia, etc. E como sempre, a conclusão é que nenhuma mulher gosta disso. É uma espécie de estupro sonoro, quando mexem com uma mulher, eu não encontraria melhor termo, afinal, isso é antes de tudo uma moléstia mental.
Ai um amigo me questiona, dizendo que quando é um cara bonito as mulheres gostam.  A resposta é automática: Não!
Acho que para a sociedade machista, a qual, nascemos e somos condicionadas a viver, é  habitual para o homem jogar a sexualidade sobre a mulher, e pensar que a mulher deve apenas se calar.
Mas, as mulheres já se cansaram, se cansaram de escutar e não poder revidar, de ter que abaixar a cabeça, de achar que é comum, de acreditar que o homem tem poder sobre o corpo da mulher.
Um simples psiu, é um desrespeito tremendo, é invasivo, faz com que a mulher se sinta uma mercadoria em leilão.
A mulher deseja ter a liberdade de usar uma peça longa, curta, folgada, apertada, independente do tecido, cor, decote, sem que ninguém a desrespeite por isso, sem um psiu, ou uma passadinha de mão. Ainda hoje, quando uma mulher é estuprada e procura a polícia, é questionada sobre qual era a roupa que usava, como se usar um short ou uma calça fosse um abismo e uma porta de entrada para um possível estupro. Enquanto esse tipo de situação ainda ocorrer, acreditar que a liberdade sexual existe chega a parecer algum tipo de piada.
É preciso estabelecer uma conscientização no homem e na mulher de hoje, toda vez que uma mulher é violentada, seja sexualmente, fisicamente ou mentalmente, todas as outras mulheres partilham de sua dor, pois, esse é o pior mal que podem fazer a uma mulher. Ser um objeto não é motivo de glória, é um motivo para se sentir enojada, além de todos os males corporais, mentais e até espirituais que podem ser causados. Um homem que diz que gostaria de ser bajulado por mulheres não tem a capacidade intelectual de entender o mal que isso pode fazer. Um estupro só afetará um homem verdadeiramente quando isso ocorrer com alguma mulher que ele ame, ou quando isso acontecer com ele, afinal, o estupro contra homens também existe.
O estupro é um abuso, um ato de violência com o corpo, assim como o psiu é um abuso e um ato de violência sonoro e mental. Então homens, pensem bem com o que dizem as mulheres. Não somos mercadorias, somos racionais e antes de tudo, somos um ser como você.

Por Aline Souza