terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pixação e a importância da "ação"


                          (Meduza - Exposição Pixo. Logo existo! - Pinacotéca do Estado de São Paulo, 2006)

Não é difícil de encontrá-la, caminhando pela cidade de São Paulo nos deparamos com os mais diferentes tipos de tipografia se espalhando. Os espaços são inúmeros, desde o topo dos prédios mais altos, janelas, muros, azulejos,  até a porta de alúmio das pequenas lojas.
Há pessoas que gostam, admiram, acham audacioso e interessante, há outras, em sua maioria, que detestam e ficam se perguntando o que é que leva uma pessoa a ir até "ali".

 Embora seja um assunto polêmico e pré-julgado por muitos, a pixação tem caminhado junto da história ao longo dos anos e serviu como forma de expressão para os mais diversos tipos de manifestãções. Pixar também é uma maneira de se manifestar livremente, o que em um país democrático, poderia acontecer normalmente, mas nem sempre é assim.

O objetivo desse texto não é falar sobre o surgimento da pixação (suas origens são inúmeras  e isso é fácil de achar em vários sites) agredí-la ou defendê-la, mas aguçar o interesse sobre a sua importância na história e colaboração para o livre pensamento.

No mundo a pixação é algo único que só há no Brasil, em São Paulo, ela tomou mais forma e com o passar do tempo foi se espalhando mais do que nas demais cidades e estados, possui uma comunicação interna e passa por vários processos até chegar aos nossos olhos.
Para muitos, seu objetivo é somente o de agredir a sociedade e talve seja esse um deles, anarquisando muros, vielas e prédios, entretanto, pode se tratar também de um auto-reconhecimento do indivíduo, fazendo com que se lembrem que ele está presente dentro de uma determinada sociedade.

No período da ditadura militar, a pixação, assim como qualquer forma de expressão que fosse contra o governo militarista não poderia existir, mas, ainda assim, lá estava ela resistindo. O mesmo ocorreu com o muro de Berlim, quando caiu, um lado limpo e um lado escrito, nessa situação o maior símbolo foi a queda de duas barreiras, não só da concreta, mas de uma que não é vísivel.


Hoje, entre os pixadores há uma busca por adrenalina e uma espécie de demarcação de território, quem tem mais muros, quem tem mais "trampos" na rua. Mas uma grande importância da pixação, se dá diante da apropriação dos espaços urbanos, que em geral deveriam ser públicos e não são, prédios, muros, janelas, afinal, como cidadãos deveríamos ser donos da cidade que é nossa. A pixação e sua liberdade de formas e lugar, de uma maneira política, consciente ou não, nos lembra isso.

Mas, se a pixação, também pode colaborar para a nossa manifestação, para que sejamos notados e para a exposição de idéias, então, talvez o ponto errado nisso tudo seja a falta desse espaço democrático real para o povo!
Um ponto importante a ser questionado, talvez seja: estamos sendo mesmo ouvidos? Estão mesmo nos valorizando como indivíduo? Como cidadão? Como o caro eleitor?

Talvez, em um mundo onde, cada um pudesse dizer o que pensa e esse pensamento fosse realmente analisádo de forma válida, não houvesse a necessidade de uma pixação agressiva, ou teríamos uma pixação liberta!







Aline Souza

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Jorge Amado, Política, Nordeste e Problemas Sociais

Antes de iniciar o texto, preciso confessar-lhes uma coisa: Eu amo Jorge Amado! Não como amo Orwell, ou como amo Saramago, minha relação com ele é diferente, é uma coisa mais "abrasileirada". Já nos deitamos nas areias das praias da Bahia e já corremos pelo Pelourinho. Nosso caso de amor se trata de uma coisa que dá gosto e nos reencontramos em meio a um bom samba e cachaça sempre! Somos dois boêmios e morreremos nos amando em algum barco ancorado na praia.

Hoje quero dar uma dica de leitura, se possível, leia Jorge Amado.
Em 2010, fiz uma maratona de leitura, e notei que apesar de ler diversas obras, me faltava o devido contato com o meu país, com a minha realidade de fato, ai entra a obra de Jorge.
Jorge Amado além de ter feito parte do Modernismo regionalista, também foi considerado um ícone pelo movimento comunista mundial, e era um comunista declarado, mas, decidiu sair do PCB, porque, não conseguia entender o fato de que ambos os lados diziam o que deveria ser feito. Optando somente pela democracia, declarando que iria cumprir a sua última tarefa para pensar, por sua própria cabeça. O que não fez com que ele deixasse o comunismo, apenas mudou sua forma de pensar:
"A esquerda em geral não é democrata. Posso dizer porque fui comunista. Lutávamos confessadamente pela ditadura do proletariado, que resultou em ditaduras pessoais e violentas. Democracia não tem nada a ver com ideologia. Ou se é ou não é".

Em seus livros, Jorge Amado, relata a realidade nordestina, quando escreveu Capitães de Areia (livro que foi queimado em praça pública, por, como diziam, conter herezias contra a igreja católica e incentivar o povo a ir contra o governo) dorme em trapiches abandonados, se une aos meninos de rua e conhece como ninguém a realidade dos pedintes. Conhece afundo o Brasil esquecido, as tramas políticas dos coronéis do Norte e Nordeste, que são considerados bons homens, entende e vivência bem cada tipo de preconceito, seja ele, contra mulatos, negros, mestiços, mulheres, da seca, da força da igreja contra os cultos afro-brasileiros e da falta de distribuição de renda para o povo.  Em seus 23 romances é possível notar esses temas, trabalhados com um português que segue à risca, gírias regionais e palavrões. Em algum momento você pode chorar, ou morrer de rir. (Eu particularmente já chorei muito)

Tentei contar neste livro, com um mínimo de literatura para um máximo de honestidade, a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau do sul da Bahia.
Será um romance proletário?
J.A - Cacau

Depois de um tempo, Jorge Amado passou a aceitar a idéia de que a moral e a nobreza de espírito, a boêmia ou a malandragem são frutos não da riqueza ou da pobreza, mas da vontade do caráter de cada um, entretanto, os fatores anteriores podem e colaboram para a formação dos outros.
Seus personagens em geral, são de baixa densidade psicológica, e suas ações quase sempre, é o resultado de conflitos originados pelas condições de miséria, opressão e privações.
O que coordena no fundo suas obras, são as questões socioeconômicas, e também são levados em consideração os pontos de hierarquia e injustiças diárias da sociedade capitalista. Sendo assim, seus romances trabalham as desigualdades e acredita-se que essas, só acabarão quando os homens, tomarem consciência de sua identidade como uma só, sem levar em consideração as diferenças de etnia, religião ou nacionalidade. No caso de seus romances em especial, se tratando de uma humanidade única, proletária e explorada. É por isso que quase sempre surge uma greve operária, em algum momento do romance, e os personagens também fazem a grande descoberta, em relação à consciência e a solidariedade de classe.

_ Por que você não matou Colodino? Porque queria bem a ele?
_ Eu gostava de Colodino... Mas, eu não queimei o bruto proque ele era alugado com a gente... Matá coroné é bom, mas trabaiadô não mato. Não sou traidô...
Só muito tempo depois soube qu o gesto de Honório não se chamava generosidade. Tinha um nome mais bonito: consciência de classe.
J.A - Cacau

Quando se trata de Jorge Amado, ler sua obra é ler um Brasil apagado por muitos. Talvez se estivesse vivo, e escrevendo, pudesse ser um grande relator da dura realidade da nossa periferia.
O que ocorre nas fazendas, nas praias baianas, nos nossos morros e ladeiras, acaba por fim, mudando apenas de lugar no mapa, em São Paulo, temos também uma quantidade absurda de meninos de rua, pessoas que perdem a vida aos poucos na cracolândia, mulheres que apanham de seus maridos, religiões que tentam determinar o que você pode ou não fazer, e hoje, um mundo corporativo que também se encarrega disso diariamente. Será Jorge Amado contemporâneo?

Deixo algumas dicas, de obras desse baiano que podem ser lidas, mas você não precisa se limitar somente a esses. São obras onde se encontram diversos temas, como os destacados acima, que também são nossos:

Cacau (1933)- Conflitos agrários e luta de classes
Mar Morto (1936) - Modo de vida miserável do "povo do mar", a morte sempre presente e diversos amores
Capitães de Areia (1937) - Relação de moradores de rua, em especial crianças do Brasil
Bahia de todos os santos (1945) - Preconceito e miséria
A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água (1959) - Realidade da gente pobre, humilde e feliz, que é excluída da alta sociedade de Salvador.


Por Aline Souza

domingo, 8 de janeiro de 2012

Cabelo, resistência e identidade

Chapinha, Escova, progressivas, alisamento...

A convivência dolorosa com um corpo, e particularmente com um cabelo, que nunca está em paz, obrigou as pessoas negras a desenvolverem mecanismo de defesa que não são necessariamente elaborados para resguardar identidade, mas para diminuir sofrimento. É relativamente fácil detectar aqui e ali o uso desses mecanismos, como, por exemplo, as maneiras de disfarçar o cabelo. Porém, equivocamo-nos, muitas vezes, ao
acreditarmos que tais estratégias são decisões voluntárias, independente de tensões e limites que as pessoas atingidas vivam. Engana-se quem pensa que tais reações são causas e não efeitos de um processo extremamente complexo.

Nelson Olokofá Inocêncio


Encontramos em diversos salões de beleza anúncios de chapinha, escova, alisantes e nesse meio a crença de que é normal um "sofrimento" feminino para ser bonita e que a mulher é capaz de tudo pela beleza.  Mas, diante de tantas afirmações, existem as dúvidas: O que define um padrão de beleza exato? Quem disse que somente o liso pode ser belo? De onde saiu a ditadura do cabelo liso? E onde fica a sua identidade, nessa história?

Nada contra quem faz, mas, talvez não seja válido o tempo perdido dedicado às loucuras químicas que vão contra a sua própria origem. Dizem que a atual onda no mundo fashion são os cachos e que nesse verão os cabelos naturais estão em alta. Mas, e quando o inverno chegar, as mulheres deverão correr para o mundo da chapinha? Nesse verão, muitas mulheres tem usado seus cabelos curtos e crespos pela moda, ela influência mesmo. E ainda existe o mito do étnico, do exótico e infelizmente, a moda ainda valoriza somente isso e se esquece da estética negra que também é bonita e deve sim, ser muito valorizada!

Como é de conhecimento de muitos, a alguns meses, uma moça sofreu preconceito em uma escola, onde trabalhava, pediram que ela prendesse seu cabelo ou o alisasse, para que tivesse uma boa aparência. Além desses, são tantos os casos e diariamente somos lançados a uma jaula, onde idéia de que os padrões europeus de beleza, seus cabelos lisos e narizes finos se encaixam melhor no que é ditado pelas capas de revistas e que isso deve ser seguido, como um cordeiro, alguns aceitam os padrões e os seguem se escondendo, se inferiorizando. Outros se libertam desses e respondem: Não! O cabelo também pode ser uma forma de resistência!
Meninas de cabelos encaracolados ou crespos, vão à escola e criam a idéia de que não são bonitas devido aos cabelos volumosos, escutam as piadas sobre o cabelo crespo, aprendem com os contos de fada que as princesas e seus cabelos lisos, ruivos ou loiros é que conseguirão um príncipe encantado e crescem sem se aceitar, se sentindo diminuídas.  É muito dolorosa e triste, a não aceitação de si mesmo, principalmente, quando se inicia uma busca pelo que não é e se esquece de conhecer, valorizar e desfrutar dos pontos positivos da sua identidade. Aceitando as leis ditadas pelo mundo fashion, de geração em geração, se perdem costumes, raízes e cultura. Para que isso mude, é necessário se conhecer.

Não há aqui, nenhum julgamento em relação à quem usa algum recurso químico para mudar o cabelo, afinal, todo ser é livre,  entretanto, sugiro, que antes que seja feita alguma mudança, avaliem os reais motivos desta. Se for somente por padrões impostos e que te desvalorizem, quando o resultado deveria ser outro, tenho uma dica:
" Faça a diferença, liberte-se e resista"


Em terra de chapinha quem tem cachos é rainha, dê um basta a escravidão do liso obrigatório!





Por Aline Souza

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Coletivo Meinhof

Bem vindo ao Coletivo Meinhof


O Coletivo Meinhof nasce no coração da periferia do Campo Limpo, bairro da Zona Sul de São Paulo, a partir da necessidade de dar importância à periferia, seus costumes, a valorização de sua cultura e do povo que ali vive.


Sua missão é despertar em cada indivíduo a busca e o conhecimento maior em relação à suas raízes, a valorização de sua cultura e o reconhecimento de sua importância na sociedade, quanto homens e mulheres.


O nome Meinhof, é inspirado na jornalista, escritora e ativista alemã Ulrike Marie Meinhof, ou apenas Ulrike Meinhof e em suas atividades realizadas junto ao grupo RAF (Fração do Exército Vermelho).

"Protesto é quando eu digo que algo me incomoda. Resistência é quando eu me asseguro que aquilo que me incomoda nunca mais acontecerá" Ulrike Meinhof.

Acreditamos na resistência periférica e lutamos por ela.
Então, entre, sente-se ai, tome um café conosco e sinta-se á vontade para ter contato com os mais diversos temas, que vão desde política, ativismo, feminismo, arte e música até alguma receita de chá para o inverno.