domingo, 8 de janeiro de 2012

Cabelo, resistência e identidade

Chapinha, Escova, progressivas, alisamento...

A convivência dolorosa com um corpo, e particularmente com um cabelo, que nunca está em paz, obrigou as pessoas negras a desenvolverem mecanismo de defesa que não são necessariamente elaborados para resguardar identidade, mas para diminuir sofrimento. É relativamente fácil detectar aqui e ali o uso desses mecanismos, como, por exemplo, as maneiras de disfarçar o cabelo. Porém, equivocamo-nos, muitas vezes, ao
acreditarmos que tais estratégias são decisões voluntárias, independente de tensões e limites que as pessoas atingidas vivam. Engana-se quem pensa que tais reações são causas e não efeitos de um processo extremamente complexo.

Nelson Olokofá Inocêncio


Encontramos em diversos salões de beleza anúncios de chapinha, escova, alisantes e nesse meio a crença de que é normal um "sofrimento" feminino para ser bonita e que a mulher é capaz de tudo pela beleza.  Mas, diante de tantas afirmações, existem as dúvidas: O que define um padrão de beleza exato? Quem disse que somente o liso pode ser belo? De onde saiu a ditadura do cabelo liso? E onde fica a sua identidade, nessa história?

Nada contra quem faz, mas, talvez não seja válido o tempo perdido dedicado às loucuras químicas que vão contra a sua própria origem. Dizem que a atual onda no mundo fashion são os cachos e que nesse verão os cabelos naturais estão em alta. Mas, e quando o inverno chegar, as mulheres deverão correr para o mundo da chapinha? Nesse verão, muitas mulheres tem usado seus cabelos curtos e crespos pela moda, ela influência mesmo. E ainda existe o mito do étnico, do exótico e infelizmente, a moda ainda valoriza somente isso e se esquece da estética negra que também é bonita e deve sim, ser muito valorizada!

Como é de conhecimento de muitos, a alguns meses, uma moça sofreu preconceito em uma escola, onde trabalhava, pediram que ela prendesse seu cabelo ou o alisasse, para que tivesse uma boa aparência. Além desses, são tantos os casos e diariamente somos lançados a uma jaula, onde idéia de que os padrões europeus de beleza, seus cabelos lisos e narizes finos se encaixam melhor no que é ditado pelas capas de revistas e que isso deve ser seguido, como um cordeiro, alguns aceitam os padrões e os seguem se escondendo, se inferiorizando. Outros se libertam desses e respondem: Não! O cabelo também pode ser uma forma de resistência!
Meninas de cabelos encaracolados ou crespos, vão à escola e criam a idéia de que não são bonitas devido aos cabelos volumosos, escutam as piadas sobre o cabelo crespo, aprendem com os contos de fada que as princesas e seus cabelos lisos, ruivos ou loiros é que conseguirão um príncipe encantado e crescem sem se aceitar, se sentindo diminuídas.  É muito dolorosa e triste, a não aceitação de si mesmo, principalmente, quando se inicia uma busca pelo que não é e se esquece de conhecer, valorizar e desfrutar dos pontos positivos da sua identidade. Aceitando as leis ditadas pelo mundo fashion, de geração em geração, se perdem costumes, raízes e cultura. Para que isso mude, é necessário se conhecer.

Não há aqui, nenhum julgamento em relação à quem usa algum recurso químico para mudar o cabelo, afinal, todo ser é livre,  entretanto, sugiro, que antes que seja feita alguma mudança, avaliem os reais motivos desta. Se for somente por padrões impostos e que te desvalorizem, quando o resultado deveria ser outro, tenho uma dica:
" Faça a diferença, liberte-se e resista"


Em terra de chapinha quem tem cachos é rainha, dê um basta a escravidão do liso obrigatório!





Por Aline Souza

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