quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Jorge Amado, Política, Nordeste e Problemas Sociais

Antes de iniciar o texto, preciso confessar-lhes uma coisa: Eu amo Jorge Amado! Não como amo Orwell, ou como amo Saramago, minha relação com ele é diferente, é uma coisa mais "abrasileirada". Já nos deitamos nas areias das praias da Bahia e já corremos pelo Pelourinho. Nosso caso de amor se trata de uma coisa que dá gosto e nos reencontramos em meio a um bom samba e cachaça sempre! Somos dois boêmios e morreremos nos amando em algum barco ancorado na praia.

Hoje quero dar uma dica de leitura, se possível, leia Jorge Amado.
Em 2010, fiz uma maratona de leitura, e notei que apesar de ler diversas obras, me faltava o devido contato com o meu país, com a minha realidade de fato, ai entra a obra de Jorge.
Jorge Amado além de ter feito parte do Modernismo regionalista, também foi considerado um ícone pelo movimento comunista mundial, e era um comunista declarado, mas, decidiu sair do PCB, porque, não conseguia entender o fato de que ambos os lados diziam o que deveria ser feito. Optando somente pela democracia, declarando que iria cumprir a sua última tarefa para pensar, por sua própria cabeça. O que não fez com que ele deixasse o comunismo, apenas mudou sua forma de pensar:
"A esquerda em geral não é democrata. Posso dizer porque fui comunista. Lutávamos confessadamente pela ditadura do proletariado, que resultou em ditaduras pessoais e violentas. Democracia não tem nada a ver com ideologia. Ou se é ou não é".

Em seus livros, Jorge Amado, relata a realidade nordestina, quando escreveu Capitães de Areia (livro que foi queimado em praça pública, por, como diziam, conter herezias contra a igreja católica e incentivar o povo a ir contra o governo) dorme em trapiches abandonados, se une aos meninos de rua e conhece como ninguém a realidade dos pedintes. Conhece afundo o Brasil esquecido, as tramas políticas dos coronéis do Norte e Nordeste, que são considerados bons homens, entende e vivência bem cada tipo de preconceito, seja ele, contra mulatos, negros, mestiços, mulheres, da seca, da força da igreja contra os cultos afro-brasileiros e da falta de distribuição de renda para o povo.  Em seus 23 romances é possível notar esses temas, trabalhados com um português que segue à risca, gírias regionais e palavrões. Em algum momento você pode chorar, ou morrer de rir. (Eu particularmente já chorei muito)

Tentei contar neste livro, com um mínimo de literatura para um máximo de honestidade, a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau do sul da Bahia.
Será um romance proletário?
J.A - Cacau

Depois de um tempo, Jorge Amado passou a aceitar a idéia de que a moral e a nobreza de espírito, a boêmia ou a malandragem são frutos não da riqueza ou da pobreza, mas da vontade do caráter de cada um, entretanto, os fatores anteriores podem e colaboram para a formação dos outros.
Seus personagens em geral, são de baixa densidade psicológica, e suas ações quase sempre, é o resultado de conflitos originados pelas condições de miséria, opressão e privações.
O que coordena no fundo suas obras, são as questões socioeconômicas, e também são levados em consideração os pontos de hierarquia e injustiças diárias da sociedade capitalista. Sendo assim, seus romances trabalham as desigualdades e acredita-se que essas, só acabarão quando os homens, tomarem consciência de sua identidade como uma só, sem levar em consideração as diferenças de etnia, religião ou nacionalidade. No caso de seus romances em especial, se tratando de uma humanidade única, proletária e explorada. É por isso que quase sempre surge uma greve operária, em algum momento do romance, e os personagens também fazem a grande descoberta, em relação à consciência e a solidariedade de classe.

_ Por que você não matou Colodino? Porque queria bem a ele?
_ Eu gostava de Colodino... Mas, eu não queimei o bruto proque ele era alugado com a gente... Matá coroné é bom, mas trabaiadô não mato. Não sou traidô...
Só muito tempo depois soube qu o gesto de Honório não se chamava generosidade. Tinha um nome mais bonito: consciência de classe.
J.A - Cacau

Quando se trata de Jorge Amado, ler sua obra é ler um Brasil apagado por muitos. Talvez se estivesse vivo, e escrevendo, pudesse ser um grande relator da dura realidade da nossa periferia.
O que ocorre nas fazendas, nas praias baianas, nos nossos morros e ladeiras, acaba por fim, mudando apenas de lugar no mapa, em São Paulo, temos também uma quantidade absurda de meninos de rua, pessoas que perdem a vida aos poucos na cracolândia, mulheres que apanham de seus maridos, religiões que tentam determinar o que você pode ou não fazer, e hoje, um mundo corporativo que também se encarrega disso diariamente. Será Jorge Amado contemporâneo?

Deixo algumas dicas, de obras desse baiano que podem ser lidas, mas você não precisa se limitar somente a esses. São obras onde se encontram diversos temas, como os destacados acima, que também são nossos:

Cacau (1933)- Conflitos agrários e luta de classes
Mar Morto (1936) - Modo de vida miserável do "povo do mar", a morte sempre presente e diversos amores
Capitães de Areia (1937) - Relação de moradores de rua, em especial crianças do Brasil
Bahia de todos os santos (1945) - Preconceito e miséria
A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água (1959) - Realidade da gente pobre, humilde e feliz, que é excluída da alta sociedade de Salvador.


Por Aline Souza

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