terça-feira, 23 de outubro de 2012

863 índios se suicidaram desde 86… e quase ninguém viu ou soube

Já havíamos falado anteriormente por aqui sobre a situação triste e miserável dos nossos índios, sobre terem tomado suas terras, sobre as mortes e sobre a exploração, agora contínuamos a seguir uma situação lamentável no Mato Grosso do Sul.

Por Bob Fernandes:


Nas últimas semanas, além do futebol de sempre, dois assuntos ocuparam as manchetes: o julgamento do chamado "mensalão" e, na campanha eleitoral em São Paulo, o programa de combate à homofobia, grotescamente apelidado de "Kit Gay". Quase nenhuma importância se deu a uma espécie de testamento de uma tribo indígena. Tribo com 43 mil sobreviventes.

A Justiça Federal decretou a expulsão de 170 índios da terra em que vivem atualmente. Isso no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, à margem do Rio Hovy. Isso diante de silêncio quase absoluto da chamada grande mídia. (Eliane Brum trata longamente do assunto no site da revista Época nesta segunda-feira, 22). Há duas semanas, numa dramática carta-testamento, os Kaiowá-Guarani informaram:

- Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui, na margem do rio, quanto longe daqui. Concluímos que vamos morrer todos. Estamos sem assistência, isolados, cercados de pistoleiros, e resistimos até hoje (…) Comemos uma vez por dia.

Em sua carta-testamento os Kaiowá-Guarani rogam:

- Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais.

Diante dessa história dantesca, a vice-procuradora Geral da República, Déborah Duprat, disse: "A reserva de Dourados é (hoje) talvez a maior tragédia conhecida da questão indígena em todo o mundo".

Em setembro de 1999, estive por uma semana na reserva Kaiowá-Guarani, em Dourados. Estive porque ali já se desenrolava a tragédia. Tragédia diante de um silêncio quase absoluto. Tragédia que se ampliou, assim como o silêncio. Entre 1986 e setembro de 1999, 308 índios haviam se suicidado. Em sua maioria, índios com idade variando dos 12 aos 24 anos.

Suicídios quase sempre por enforcamento, ou por ingestão de veneno. Suicídios por viverem confinados, abrutalhados em reservas cada vez menores, cercados por pistoleiros ou fazendeiros que agiam, e agem, como se pistoleiros fossem. Suicídios porque viver como mendigo ou prostituta é quase o caminho único para quem é expelido pela vida miserável nas reservas.


Italianos e um brasileiro fizeram um filme-denúncia sobre a tragédia. No Brasil, silêncio quase absoluto; porque Dourados, Mato Grosso, índios… isso está muito longe. Isso não dá ibope, não dá manchete. Segundo o Conselho Indigenista Missionário, o índice de assassinatos na Reserva de Dourados é de 145 habitantes para cada 100 mil. No Iraque, esse índice é de 93 pessoas para cada 100 mil.

Desde fins de 1999, quando, pela revista Carta Capital, estive em Dourados com o fotógrafo Luciano Andrade, outros 555 jovens Kaiowá-Guarani se suicidaram no Mato Grosso do Sul, descreve Eliane Brum. Sob aterrador e quase absoluto silêncio. Silêncio dos governos e da chamada mídia. Um silêncio cúmplice dessa tragédia.



Nos perguntamos, até quando?

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

IDEIA X AÇÃO: Valorizando a Quebrada II


Da ideia para a ação...


O Espaço Cultural Doutora Nathália Pedroso Rosemburg, está localizado em frente a pista de skate da Praça do Campo Limpo, que fica no bairro de mesmo nome zona sul de São Paulo - SP. 

No espaço, hoje funciona o Telecentro Nathália Rosemburg e lá ocorrem também algumas outras atividades voltadas ao público em geral.
Porém, muitas pessoas que no passado já frequentaram o local, não tem conhecimento de que ele ainda existe está funcionamento, sem contar os que nunca frequentaram pois passam despercebidos por ali.

Deste modo, nós do Coletivo Meinhof propomos ao espaço o evento "Valorizando a Quebrada II", que ocorrerá das 10h às 18h de 21/10/2012 (domingo), no qual disponibilizaremos muros e pilastras do pátio para grafite ao som do Sound System Quilombo Hi-fi.

O nosso foco é valorizar o espaço do centro cultural, seus arredores que aos poucos foram esquecidas pelo povo (... sem contar descaso do poder público municipal). E é claro, compartilhar a arte da quebrada com a quebrada.   

Contamos com a presença e colaboração de todos! 


  •  Grafite à partir das 10 horas
  • Quilombo Hi-fi à partir das 14 horas

O Espaço Cultural está localizado em frente à pista de skate da Praça do Campo Limpo.

Obs: Não é permitido fumar "no local", então, aproveitem a praça :)


Como chegar:

- Centro/Paraíso/Ana Rosa/Pinheiros: 
Pegar qualquer ônibus "Terminal Campo Limpo", descer no terminal e caminhar até a praça - Aproximadamente 5 minutos.

- Santo Amaro:
1º Pegar o ônibus "Terminal Campo Limpo", descer no terminal ou um ponto antes e caminhar até a praça - Aproximadamente 5 minutos.

2º Pegar o Metro da Linha Lilás, descer na Estação Campo Limpo, se informar e pegar na integração qualquer ônibus que passe pela praça.

- Valo Velho, M'Boi Mirim, Jd. Angela e Capão Redondo:
Pegar o ônibus "Terminal Campo Limpo", descer no terminal ou um ponto antes e caminhar até a praça - Aproximadamente 5 minutos.

Quanto ao endereço:

Espaço Cultural Doutora Nathália Pedroso Rosemburg
Endereço: Rua Aroldo de Azevedo, 100 - Praça do Campo Limpo (em frente a pista de skate), São Paulo/ SP

sábado, 8 de setembro de 2012

Depressão contemporânea


Quando penso nos humanos, nos imagino dentro de cadeias que nos são dadas desde nosso nascimento, você precisa ter um emprego de segunda à sexta-feira para poder fazer nada no final de semana, reclamar da segunda, ir a praia no carnaval juntamente com a metade da sua cidade e fazer promessas de ano novo, imaginando que as coisas mudam por causa do ano e não por você. Fui comer com uma amiga na última quarta-feira, e como o lugar mais próximo era o shopping, acabamos indo lá, havia esquecido que é o dia em que cinema é mais barato e que vai uma galera que já está condicionada a isso de assistir filmes hollywoodianos, etc... Me sentei na praça de alimentação para comer e fiquei observando as pessoas, envolvidas em seus pratos de ilusão e de uma felicidade longe de ser real. Em mesas cheias de solidão e pessoas vazias de coisas que vão além de pagar por um hamburguer e se afogar na infelicidade dentro do copo de refrigerante. Fiquei pensando se essa era a real condição desses tempos contemporâneos, esperar por um fim de dia para usufruir do que resta do vale refeição depois de vendê-lo para pagar algumas contas e saborear o cheddar do lanche, como se fosse somente isso o que a vida pode oferecer...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

“A mulher que é extensão do outro: Ainda não tem existência própria.”

Há dias que venho observando as atitudes de algumas mulheres, as que conheço e conversam comigo, as que são protagonistas das histórias das minhas amigas, entre outras. E o que notei em comum em algumas é o fato de que o maior problema que cerca suas vidas é o seu companheiro, namorado, esposo, amigo colorido. Venho notando uma carência afetiva que tem maltratado muitas mulheres, o problema? O fato de que precisam de um outro ser para serem felizes, que não tem se tornado felizes por si só, e que apenas um homem, um salvador é que resolveria tudo. Para as mulheres que possuem maior poder aquisitivo a necessidade é um homem educado, bonito, que fale bem, e trate a família bem. Já as de baixa renda, se contentam com um homem que coloque o pão dentro de casa , não beba, e não a espanque. Ou seja, o casamento, tem se parecido com uma espécie de luta que cega a visão feminina e a distância de coisas importântes como ela mesma. É como se para ser feliz sempre fosse necessário atender a uma outra pessoa e não a si mesmas. Antigamente, éramos educadas para conquistar o homem pelo estômago, e após o casamento, a casa e os filhos deviam estar sempre bem arrumados, depois de um tempo a conquista ficou válida pelo bom sexo, era preciso ser boa de cama e após o casamento atender bem as necessidades sexuais do marido, além de deixar a casa e os filhos arrumados, hoje em dia, a mulher precisa ter vastos conhecimentos, ser bem educada, ser boa de cama, deixar a casa limpa e arrumada assim como os filhos, e ter emprego, será que o destino é sustentar o esposo e viver uma vida padronizada? Eu acredito nos avanços, acredito que a mulher tem tomado os melhores postos, empregos, faculdades, até temos uma “presidenta”, mas ainda assim, milhares de mulheres tem elevado seu nível de conhecimento, fingido animar sua vida sexual e permanecem fazendo isso tudo apenas para manter um homem ao lado. Sendo assim, deve haver algo de errado e a lição de casa, talvez esteja sendo mal entendida, e continuamos a nos oprimir. É bom ter alguém do lado, mas ficar sozinha não significa ser de todo mal, em alguns momentos é necessário, até para nos encontrarmos com nós mesmos. Fora que existem coisas que é melhor fazer sozinha, eu mesma gosto de sair somente com as meninas, ou com um grupo seleto de amigos e meu namorado com os amigos dele, não há mal nisso, não significa que não gostamos dos amigos um do outro ou estamos nos distanciando. O mal está em se desvalorizar, fazer conquistas e realizar sonhos por uma idéia ultrapassada de que o outro deve estar a nossa frente e que devemos fazer de tudo para surpreendê-lo, sendo que as nossas conquistas devem ser nossas.

Sabe aquilo de se eu não me amar primeiro ninguém me ama? Então, é disso que eu to falando.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Onde nasce o preconceito?

Essa semana, enquanto preparava um determinado material no trabalho, escutei um menino que questionava sobre sua cor, que era cor chocolate e não cor de pele. Ele dizia que queria mudar, provavelmente, por seguir aquela tendência escolar onde os alunos chamam a cor salmon, aquele rosa amarronzado, de cor da pele para preencher os desenhos correspondentes às figuras humanas. Talvez tenha tido dificuldade para encontrar a sua própria dentro da caixinha de lápis de cor. Uma moça ouvindo-o, disse que deus havia dado a ele aquela cor, e que ele deveria ser grato por isso, chateado, ele disse que não aceitava não ter uma "cor de pele" e que gostaria de pedir para trocar. Diante de meu comentário sobre isso, me enviaram um texto que fala sobre o preconceito, que já nasce conosco e decidi compartilhá-lo aqui.


Preconceito de berço

"Volto a escrever depois de uma pequena interrupção necessária. Conforme já havia antecipado aqui neste espaço, minha filha nasceu. Passei este tempo aprendendo a lidar com uma pequena e suas necessidades, sempre difíceis de adivinhar, ainda mais para um pai de primeira viagem.

Depois de muita ansiedade, angústias e visitas a hospitais para decidir onde ela nasceria, Clarice veio ao mundo em uma maternidade na Avenida Paulista, o símbolo de uma cidade cada vez mais reacionária e proibida.

Mas não é este o tema. Não a cidade de São Paulo, muito menos minha paternidade. É sobre um assunto que já rolou nas redes sociais quando uma leitora escreveu a uma revista dedicada aos pais perguntando o porquê de só ter, nesta revista, crianças brancas.

Pois bem. Na maternidade que Clarice nasceu, em paredes estratégicas de corredores, tem enormes fotos de bebês com dias ou semanas de vida. São fotos alegres, sorridentes, que fazem com que o pai que perambula à noite pelos corredores imagine seu filho desta maneira, nestas poses e expressões.

Não pude deixar de perceber, nas fotos, um certo padrão. E não falo das poses e sorrisos cativantes, mas dos modelos. Todas, absolutamente todas, eram crianças brancas e de olhos azuis. Não havia uma de olhos escuros, de cabelo cacheado, uma descendente de japonês. Negro, então, nem pensar.

Pode-se alegar que é o padrão de beleza, que importamos isso dos escandinavos e dos eslavos. Pode-se dizer que a maternidade não faz assim propositadamente. Ambos podem ser verdades. Entretanto, ao repetir e propagar esses modelos, acriticamente, reforça, mesmo sem querer, preconceitos antigos e longevos.

Nas paredes da maternidade, em uma espécie de boas-vindas a pais e filhos, só havia lugar para crianças brancas e loiras. Em uma cidade que se pretende ser cosmopolita, que se acredita como uma Nova York do hemisfério sul, uma cidade feita por migrantes e imigrantes, aquelas paredes parecem dizer simbolicamente: aqui não é o seu lugar!"

Por Walter Hupsel



Walter Hupsel, é professor de Ciência Política com doutorado da USP

sábado, 28 de julho de 2012

Sobre nossa doença social e discriminatória

A inclusão digital chegou até o topo do morro. Agora todo mundo tem Facebook, Orkut, Msn, Twitter e qualquer uma outra rede social que apareça e permita colocar fotos, gifs animados e status de vivências cotidianas. Quando penso que a inclusão digital caminha junto com a social, acredito que há uma importância em participar de uma rede "social", já tá no nome, ela te inclui dentro de uma sociedade, e tudo o que você faz na sociedade é refletido ali dentro. O único problema que particularmente vejo, é que na prática, não é  bem assim. O que mais vejo, nessa onda de inclusão digital e social, onde computadores estão disponíveis para todos com parcelas baratas e a internet é adquirida com maior facilidade, são membros de redes sociais atacando verozmente, aqueles que não tinham contato com o mundo virtual no passado recente. Vejo piadas, fotos e correções sociais entre os cults e conhecedores de cinema europeu. Pessoas que reclamam das fotos da galera na piscina de plástico, do pagode que rola na COHAB, mas que dizem que a igualdade social devia ser para todos, que não querem metrô em Higienópolis, mas acham que em Paris é o máximo ver o metrô cortando a cidade toda, ainda que cheio de ratos, que acreditam que a Virada Cultural é uma baderna e que suja o centro, mas que deveríamos ter mais festivais de música, como na Europa.
Ridicularizam os pobres, fazem páginas onde, se compartilham e riem do que talvez pudesse ser resolvido. Criticam a inclusão digital, pois afinal, é muito mais fácil rir e se fechar, ao invés de buscar uma solução para acabar com os problemas sociais. É tudo muito mais fácil quando você é o inteligente e pode simplesmente se fechar em fotos de rolês no Starbucks, após o cinema no Center 3. Exigir de alguém que não publique coisas de sua vida, simplesmente porque não te agrada saber que existem pessoas que fazem churrasco na laje, escutam pagode na feijoada do sábado e gostam de BBB, é no mínimo discriminatório, levando em consideração que cada um posta o que quer de sua própria vida pessoal e que sim, existem pessoas que vivem daquela maneira, mesmo que queiram fechar os olhos para isso.

E se não te agradar mesmo, siga meu conselho, se mude para a Holanda.


Isso tudo é uma doença social e discriminatória...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ordem e progresso, sua burrice é um sucesso


Venho notado nos últimos tempos, uma mudança em relação a uma parte da população, aquele grupo de pessoas que se limitava a ser a classe média baixa, ou simplesmente ditos "pobres", hoje tem aparecido com maior frequência entre os jornais, e nos assuntos relacionados a casa própria, carros e cartões de crédito. Também noto que os bairros da periferia, tem recebido um pouco mais de atenção, algumas praças novas surgiram com alguns banquinhos meia boca, ou com aparelhos para exercício físico, sem instrução de uso, e também, há um crescimento de lojas, super mercados pertencentes a redes maiores, smartphones e notebooks que podem ser pagos em mais de 15 parcelas. Esse é o progresso, ao menos é o que dizem, isso é a cidade chegando ao bairro. Mas, apesar dessa mudança, dessa dita evolução, não vejo pessoas com livros nas mãos, as bibliotecas permanecem cheias de vento, ninguém sabe quem foi Josué de Castro ou Jorge Amado e sentem preguiça de ler Machado de Assis... Nos dias de hoje, é importante ter um notebook para o acesso a internet, um celular para comunicação, ou um tênis que não deixe seu pé molhado em dias de chuva, mas o progresso não pode se limitar a isso. Há uma falta de conhecimento para o povo que é mascarada com esse dito progresso, com essa ilusão embutida em cartões de crédito e smartphones. A periferia precisa entender que conseguir fazer compras em lojas, não vai mudar sua condição real de vida, no final das contas, a classe C, que já foi a média baixa, que é a mesma classe de pobres, trabalhadores e assalariados, não mudou. O termo utilizado pode ser qualquer um, mas a história ainda é a mesma, hoje só há facilidade para aquisição de coisas, mas a situação ainda é precária, precisamos de informações e conhecimentos que permitam o crescimento de cada indivíduo dentro da sociedade, e isso tem que começar nas escolas, e fora delas. A leitura de livros, a busca por informaçoẽs, os debates de idéias e uma mudança real. Ou então, continuaremos a apadrinhar uma burrice generalizada e fazer com que o povo nunca pare de girar na roda dessa gaiola gigante de hamsters que é o nosso país.


Analisando essa cadeia hereditária
Quero me livrar
Dessa situação precária

Onde o rico cada vez
Fica mais rico
E o pobre cada vez
Fica mais pobre
E o motivo todo mundo
Já conhece
É que o de cima sobe
E o de baixo desc

Bom xi bom, xi bom bom bom

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Quem me dera ao menos uma vez...

No último dia 19 de abril foi celebrado mais um dia do índio, me lembro que quando criança, na escola pintávamos o rosto com tinta guache, e fazíamos cocares de papel. Hoje, penso que se fosse levado em consideração a importância do índio para nosso país, e que no mesmo mês, são celebrados também o dia da terra, o descobrimento do Brasil e ironicamente faz mais um ano da morte do índio Galdino Pataxó, (queimado em Brasilia) o tema índio poderia ser bem mais estudado e esse povo mais valorizado.
Há muito tempo, venho observando que para algumas pessoas, infelizmente, os índios são selvagens, seres irracionais, e de difícil contato, que não se preocupam em aprender nada e que nada lhes deve ser ensinado (escola, faculdade), que são preguiçosos e que órgãos como a FUNAI lhes disponibilizam terras e ferramentas para conseguirem viver bem com a terra e que eles reclamam por nada, mas que tem a vida boa. Porém, infelizmente, isso é tudo um grande engano que vem sido passado por gerações. Há muito tempo os índios sofrem, desde que os brancos chegaram a essa terra e celebraram uma missa, tentaram impor uma religião e abusaram de sua confiança. Eles também lutam por melhorias para suas vidas, melhores condições para suas terras e povos, mas, sem perder suas raízes. Uma pena é que devido a esses conceitos absurdos que nos são mostrados, pessoas que tentam até hoje roubar as terras que não lhes pertencem, madeireiros que tentam destruir as florestas, mais gente roubando dinheiros e uma série de coisas ocultas, que os recursos demoram para chegar até eles. Recursos que são importantes, desde água, luz, saúde, escola e moradia. Afinal, se gostamos da nossa vida e não pretendemos perder nossos pequenos luxos, por que é que nossos irmãos podem viver sem eles? Levando em consideração que somos todos iguais.
Na última semana, fui ao Sarau do Binho e vi dois vídeos sobre os indígenas que vivem na Bahia, hoje estou sem as informações sobre os nomes das tribos e a localização exata, mas assim que eu conseguir as informações coloco nos comentários, mas gostaria de deixar esse pensamento sobre esses nossos irmãos que sofrem tanto por uma terra que é deles e também é nossa, e gostaria de convidá-los a conhecer o site, http://www.indiosonline.net/ que é um canal aberto para que os índios possam manter contato conosco e isso é algo que não podemos deixar que se perca.

Aline Souza
"Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade.
Se alguem levasse embora até o que eu não tinha"






sábado, 31 de março de 2012

Ginga e fala gíria, gíria não, dialeto

No dia-a-dia, a mulher é criada desde pequena dentro de padrões que não permitem que ela pule muros, brigue na escola, fale alto ou desrepeite um homem. Quando crescidas, esses padrões aumentam, elas não podem falar palavrão, arrotar, usar gírias ou determinadas roupas e as mulheres ditas livres geralmente são chamadas de vagabundas ou putas.
Sendo assim, em nossa mente, são implantados pensamentos separatistas e cruéis, que não permitem que sejamos quem desejamos ser, simplesmente porque algumas ações são julgadas como feias pela sociedade.
Porém, analisando a história mundial, entendemos que ao contrário do homem, por ter passado por diversos tipos de situações e opressão, a mulher conseguiu fazer sua própria revolução, ao contrário do homem que desde os primórdios vem caminhando da mesma maneira.
Conseguimos alcançar o direito a escola, a usar calças, ao voto, ao trabalho e até mesmo ao trabalho com registro em carteira. Lembrando é claro, que ainda nos falta muito, para que tudo isso seja exatamente de acordo com o sexo oposto. Movimentos como o hip hop, punk rock, o samba e tantos outros auxiliaram nessa emancipação. Mesmo assim, observando todas essas ações e outras mais, como ser livre que somos todos, ainda julgam feio agir ou se falar da forma que se quer.
Observo homens falando que a mulher que fala gíria e palavrão está errada, mas vejo esses mesmos homens se deslumbrando ao conhecer uma garota que foge de determinadas regras sociais. A gíria antes de ser simplesmente uma forma de falar por falar, tem um contexto preenchido de carga cultural, e cada indivíduo a usa de acordo com o ambiente em que convive e algumas vezes até região.
Se podemos pensar que uma garota que usa gírias não pode ser doce ou gentíl em seus momentos de intimidade, entre a família ou amigos, então podemos ter certeza de que um homem será incapaz de dizer eu te amo, já que nos foi dito que só eles podem usá-las.
Claro que à partir desse texto, poderão soar aqueles comentários de sempre, de que as mulheres querem virar homens, mas deixo esses pensamentos para os que temem que isso realmente aconteça no futuro, pois da forma que o mundo vem andando, já sabemos ao menos quem vai liderar uma boa parte dele.

E para os que julgarão o texto como "coisa típica de mulher", para entender como as coisas são, basta passar uma semana com uma vulva entre as pernas.


"Mas não, permaneço vivo
Prossigo a mística
Vinte e sete anos contrariando a estatística"
Racionais Mc's - Capítulo 4 versículo 3

Por Aline Souza

quinta-feira, 22 de março de 2012

A verdade é que você: Tem sangue crioulo!

Me lembro de ter lido uma matéria na Revista Ou não, que continha a seguinte frase: "Todo africano carrega o orgulho de dizer de boca cheia 'sou africano', independente do país" Bukassa Kabengeao (músico e ator).
Porém, no Brasil, a coisa é diferente. Li essa frase algumas vezes, e penso que vivemos em um país onde os negros continuam a ser discriminados diariamente, desde piadinhas na escola até o fato de pessoas não se sentarem ao seu lado no ônibus, ou agarrarem a bolsa com força ao passar ao lado de um negro na rua.
Além desses fatores que ocorrem diariamente, uma coisa que me preocupa é o fato de que o negro não cresce sabendo de tudo isso, que infelizmente, ele poderá estar andando em seu próprio carro, dentro do limite de velocidade e que ainda assim o policial poderá pedir que ele pare, simplesmente para uma checagem de rotina, ou por algum motivo suspeito que pode ser somente a cor de sua pele.
Eu mesma, cresci ouvindo e ouço até  hoje das pessoas que sou morena clara e que meu cabelo é "bom".

O que elas não sabem é que quando você realmente se encontra dentro de um determinado grupo, entende sua importância e influência para a formação de sua sociedade e que cada povo tem a sua própria identidade não existe isso de cabelo bom ou ruim, bonito ou feio, mas que é tudo uma questão de diferenças, e que essas são muito importantes. Esse tipo de entendimento e valorização da própria cultura pode influenciar todo o resto.

Falando resumidamente, há hoje, um grupo de negros em nosso país que não entendeu que é negro, ou que, por aprender ao longo da vida que ser negro é fazer parte de uma minoria, ou que talvez seja fazer parte de algum grupo inferior, tenta lutar contra isso. Claro que isso tudo é resultado de um tanto de informações que são ocultadas na escola ou aplicadas de forma incorreta.
Há negros no país, em sua maioria, que não sabem que foi Zumbi, que não entendem a importância do Dia da Consciência negra, que fantasiam um fim do racismo, pensam que ele acabou lá atrás, na abolição da escravatura, e que sentem vergonha das favelas, sem entender os reais motivos dessas existirem e acham que é normal receber alguns tipos de "tratamentos" discriminatórios no dia-a-dia.
Hoje, nas propagandas, são quatro brancos para um negro, sendo que nas ruas são quatro negros para um branco, então, o que será que está errado?
A luta contra o preconceito deve existir, mas antes dela, deve haver uma reflexão interna sobre a sua própria identidade quanto indivíduo.

O negro não está estampado somente na melanina da pele, nos traços do nariz, dos lábios grossos, no cabelo, no tipo físico, não deve ser julgado como minoria ou ser motivo de inferiorização.
Para nós que vivemos no país da miscigenação, o negro deve ser lembrado e valorizado. Pode ser qualquer um e está em tudo.


"Somos todos juntos uma miscigenação
E não podemos fugir da nossa etnia
Índios, brancos, negros e mestiços
Nada de errado em seus princípios
O seu e o meu são iguais
Corre nas veias sem parar" 


Etnia - Chico Science e Nação Zumbi





Por Aline Souza

domingo, 18 de março de 2012

Lei do Psiu!

Entre um papo e outro, entre um riso e outro, quando o papo entre amigas é machismo, sempre caímos no mesmo problema: O psiu! Mas também, tem outros como, gostosa, delícia, etc. E como sempre, a conclusão é que nenhuma mulher gosta disso. É uma espécie de estupro sonoro, quando mexem com uma mulher, eu não encontraria melhor termo, afinal, isso é antes de tudo uma moléstia mental.
Ai um amigo me questiona, dizendo que quando é um cara bonito as mulheres gostam.  A resposta é automática: Não!
Acho que para a sociedade machista, a qual, nascemos e somos condicionadas a viver, é  habitual para o homem jogar a sexualidade sobre a mulher, e pensar que a mulher deve apenas se calar.
Mas, as mulheres já se cansaram, se cansaram de escutar e não poder revidar, de ter que abaixar a cabeça, de achar que é comum, de acreditar que o homem tem poder sobre o corpo da mulher.
Um simples psiu, é um desrespeito tremendo, é invasivo, faz com que a mulher se sinta uma mercadoria em leilão.
A mulher deseja ter a liberdade de usar uma peça longa, curta, folgada, apertada, independente do tecido, cor, decote, sem que ninguém a desrespeite por isso, sem um psiu, ou uma passadinha de mão. Ainda hoje, quando uma mulher é estuprada e procura a polícia, é questionada sobre qual era a roupa que usava, como se usar um short ou uma calça fosse um abismo e uma porta de entrada para um possível estupro. Enquanto esse tipo de situação ainda ocorrer, acreditar que a liberdade sexual existe chega a parecer algum tipo de piada.
É preciso estabelecer uma conscientização no homem e na mulher de hoje, toda vez que uma mulher é violentada, seja sexualmente, fisicamente ou mentalmente, todas as outras mulheres partilham de sua dor, pois, esse é o pior mal que podem fazer a uma mulher. Ser um objeto não é motivo de glória, é um motivo para se sentir enojada, além de todos os males corporais, mentais e até espirituais que podem ser causados. Um homem que diz que gostaria de ser bajulado por mulheres não tem a capacidade intelectual de entender o mal que isso pode fazer. Um estupro só afetará um homem verdadeiramente quando isso ocorrer com alguma mulher que ele ame, ou quando isso acontecer com ele, afinal, o estupro contra homens também existe.
O estupro é um abuso, um ato de violência com o corpo, assim como o psiu é um abuso e um ato de violência sonoro e mental. Então homens, pensem bem com o que dizem as mulheres. Não somos mercadorias, somos racionais e antes de tudo, somos um ser como você.

Por Aline Souza

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pixação e a importância da "ação"


                          (Meduza - Exposição Pixo. Logo existo! - Pinacotéca do Estado de São Paulo, 2006)

Não é difícil de encontrá-la, caminhando pela cidade de São Paulo nos deparamos com os mais diferentes tipos de tipografia se espalhando. Os espaços são inúmeros, desde o topo dos prédios mais altos, janelas, muros, azulejos,  até a porta de alúmio das pequenas lojas.
Há pessoas que gostam, admiram, acham audacioso e interessante, há outras, em sua maioria, que detestam e ficam se perguntando o que é que leva uma pessoa a ir até "ali".

 Embora seja um assunto polêmico e pré-julgado por muitos, a pixação tem caminhado junto da história ao longo dos anos e serviu como forma de expressão para os mais diversos tipos de manifestãções. Pixar também é uma maneira de se manifestar livremente, o que em um país democrático, poderia acontecer normalmente, mas nem sempre é assim.

O objetivo desse texto não é falar sobre o surgimento da pixação (suas origens são inúmeras  e isso é fácil de achar em vários sites) agredí-la ou defendê-la, mas aguçar o interesse sobre a sua importância na história e colaboração para o livre pensamento.

No mundo a pixação é algo único que só há no Brasil, em São Paulo, ela tomou mais forma e com o passar do tempo foi se espalhando mais do que nas demais cidades e estados, possui uma comunicação interna e passa por vários processos até chegar aos nossos olhos.
Para muitos, seu objetivo é somente o de agredir a sociedade e talve seja esse um deles, anarquisando muros, vielas e prédios, entretanto, pode se tratar também de um auto-reconhecimento do indivíduo, fazendo com que se lembrem que ele está presente dentro de uma determinada sociedade.

No período da ditadura militar, a pixação, assim como qualquer forma de expressão que fosse contra o governo militarista não poderia existir, mas, ainda assim, lá estava ela resistindo. O mesmo ocorreu com o muro de Berlim, quando caiu, um lado limpo e um lado escrito, nessa situação o maior símbolo foi a queda de duas barreiras, não só da concreta, mas de uma que não é vísivel.


Hoje, entre os pixadores há uma busca por adrenalina e uma espécie de demarcação de território, quem tem mais muros, quem tem mais "trampos" na rua. Mas uma grande importância da pixação, se dá diante da apropriação dos espaços urbanos, que em geral deveriam ser públicos e não são, prédios, muros, janelas, afinal, como cidadãos deveríamos ser donos da cidade que é nossa. A pixação e sua liberdade de formas e lugar, de uma maneira política, consciente ou não, nos lembra isso.

Mas, se a pixação, também pode colaborar para a nossa manifestação, para que sejamos notados e para a exposição de idéias, então, talvez o ponto errado nisso tudo seja a falta desse espaço democrático real para o povo!
Um ponto importante a ser questionado, talvez seja: estamos sendo mesmo ouvidos? Estão mesmo nos valorizando como indivíduo? Como cidadão? Como o caro eleitor?

Talvez, em um mundo onde, cada um pudesse dizer o que pensa e esse pensamento fosse realmente analisádo de forma válida, não houvesse a necessidade de uma pixação agressiva, ou teríamos uma pixação liberta!







Aline Souza

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Jorge Amado, Política, Nordeste e Problemas Sociais

Antes de iniciar o texto, preciso confessar-lhes uma coisa: Eu amo Jorge Amado! Não como amo Orwell, ou como amo Saramago, minha relação com ele é diferente, é uma coisa mais "abrasileirada". Já nos deitamos nas areias das praias da Bahia e já corremos pelo Pelourinho. Nosso caso de amor se trata de uma coisa que dá gosto e nos reencontramos em meio a um bom samba e cachaça sempre! Somos dois boêmios e morreremos nos amando em algum barco ancorado na praia.

Hoje quero dar uma dica de leitura, se possível, leia Jorge Amado.
Em 2010, fiz uma maratona de leitura, e notei que apesar de ler diversas obras, me faltava o devido contato com o meu país, com a minha realidade de fato, ai entra a obra de Jorge.
Jorge Amado além de ter feito parte do Modernismo regionalista, também foi considerado um ícone pelo movimento comunista mundial, e era um comunista declarado, mas, decidiu sair do PCB, porque, não conseguia entender o fato de que ambos os lados diziam o que deveria ser feito. Optando somente pela democracia, declarando que iria cumprir a sua última tarefa para pensar, por sua própria cabeça. O que não fez com que ele deixasse o comunismo, apenas mudou sua forma de pensar:
"A esquerda em geral não é democrata. Posso dizer porque fui comunista. Lutávamos confessadamente pela ditadura do proletariado, que resultou em ditaduras pessoais e violentas. Democracia não tem nada a ver com ideologia. Ou se é ou não é".

Em seus livros, Jorge Amado, relata a realidade nordestina, quando escreveu Capitães de Areia (livro que foi queimado em praça pública, por, como diziam, conter herezias contra a igreja católica e incentivar o povo a ir contra o governo) dorme em trapiches abandonados, se une aos meninos de rua e conhece como ninguém a realidade dos pedintes. Conhece afundo o Brasil esquecido, as tramas políticas dos coronéis do Norte e Nordeste, que são considerados bons homens, entende e vivência bem cada tipo de preconceito, seja ele, contra mulatos, negros, mestiços, mulheres, da seca, da força da igreja contra os cultos afro-brasileiros e da falta de distribuição de renda para o povo.  Em seus 23 romances é possível notar esses temas, trabalhados com um português que segue à risca, gírias regionais e palavrões. Em algum momento você pode chorar, ou morrer de rir. (Eu particularmente já chorei muito)

Tentei contar neste livro, com um mínimo de literatura para um máximo de honestidade, a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau do sul da Bahia.
Será um romance proletário?
J.A - Cacau

Depois de um tempo, Jorge Amado passou a aceitar a idéia de que a moral e a nobreza de espírito, a boêmia ou a malandragem são frutos não da riqueza ou da pobreza, mas da vontade do caráter de cada um, entretanto, os fatores anteriores podem e colaboram para a formação dos outros.
Seus personagens em geral, são de baixa densidade psicológica, e suas ações quase sempre, é o resultado de conflitos originados pelas condições de miséria, opressão e privações.
O que coordena no fundo suas obras, são as questões socioeconômicas, e também são levados em consideração os pontos de hierarquia e injustiças diárias da sociedade capitalista. Sendo assim, seus romances trabalham as desigualdades e acredita-se que essas, só acabarão quando os homens, tomarem consciência de sua identidade como uma só, sem levar em consideração as diferenças de etnia, religião ou nacionalidade. No caso de seus romances em especial, se tratando de uma humanidade única, proletária e explorada. É por isso que quase sempre surge uma greve operária, em algum momento do romance, e os personagens também fazem a grande descoberta, em relação à consciência e a solidariedade de classe.

_ Por que você não matou Colodino? Porque queria bem a ele?
_ Eu gostava de Colodino... Mas, eu não queimei o bruto proque ele era alugado com a gente... Matá coroné é bom, mas trabaiadô não mato. Não sou traidô...
Só muito tempo depois soube qu o gesto de Honório não se chamava generosidade. Tinha um nome mais bonito: consciência de classe.
J.A - Cacau

Quando se trata de Jorge Amado, ler sua obra é ler um Brasil apagado por muitos. Talvez se estivesse vivo, e escrevendo, pudesse ser um grande relator da dura realidade da nossa periferia.
O que ocorre nas fazendas, nas praias baianas, nos nossos morros e ladeiras, acaba por fim, mudando apenas de lugar no mapa, em São Paulo, temos também uma quantidade absurda de meninos de rua, pessoas que perdem a vida aos poucos na cracolândia, mulheres que apanham de seus maridos, religiões que tentam determinar o que você pode ou não fazer, e hoje, um mundo corporativo que também se encarrega disso diariamente. Será Jorge Amado contemporâneo?

Deixo algumas dicas, de obras desse baiano que podem ser lidas, mas você não precisa se limitar somente a esses. São obras onde se encontram diversos temas, como os destacados acima, que também são nossos:

Cacau (1933)- Conflitos agrários e luta de classes
Mar Morto (1936) - Modo de vida miserável do "povo do mar", a morte sempre presente e diversos amores
Capitães de Areia (1937) - Relação de moradores de rua, em especial crianças do Brasil
Bahia de todos os santos (1945) - Preconceito e miséria
A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água (1959) - Realidade da gente pobre, humilde e feliz, que é excluída da alta sociedade de Salvador.


Por Aline Souza

domingo, 8 de janeiro de 2012

Cabelo, resistência e identidade

Chapinha, Escova, progressivas, alisamento...

A convivência dolorosa com um corpo, e particularmente com um cabelo, que nunca está em paz, obrigou as pessoas negras a desenvolverem mecanismo de defesa que não são necessariamente elaborados para resguardar identidade, mas para diminuir sofrimento. É relativamente fácil detectar aqui e ali o uso desses mecanismos, como, por exemplo, as maneiras de disfarçar o cabelo. Porém, equivocamo-nos, muitas vezes, ao
acreditarmos que tais estratégias são decisões voluntárias, independente de tensões e limites que as pessoas atingidas vivam. Engana-se quem pensa que tais reações são causas e não efeitos de um processo extremamente complexo.

Nelson Olokofá Inocêncio


Encontramos em diversos salões de beleza anúncios de chapinha, escova, alisantes e nesse meio a crença de que é normal um "sofrimento" feminino para ser bonita e que a mulher é capaz de tudo pela beleza.  Mas, diante de tantas afirmações, existem as dúvidas: O que define um padrão de beleza exato? Quem disse que somente o liso pode ser belo? De onde saiu a ditadura do cabelo liso? E onde fica a sua identidade, nessa história?

Nada contra quem faz, mas, talvez não seja válido o tempo perdido dedicado às loucuras químicas que vão contra a sua própria origem. Dizem que a atual onda no mundo fashion são os cachos e que nesse verão os cabelos naturais estão em alta. Mas, e quando o inverno chegar, as mulheres deverão correr para o mundo da chapinha? Nesse verão, muitas mulheres tem usado seus cabelos curtos e crespos pela moda, ela influência mesmo. E ainda existe o mito do étnico, do exótico e infelizmente, a moda ainda valoriza somente isso e se esquece da estética negra que também é bonita e deve sim, ser muito valorizada!

Como é de conhecimento de muitos, a alguns meses, uma moça sofreu preconceito em uma escola, onde trabalhava, pediram que ela prendesse seu cabelo ou o alisasse, para que tivesse uma boa aparência. Além desses, são tantos os casos e diariamente somos lançados a uma jaula, onde idéia de que os padrões europeus de beleza, seus cabelos lisos e narizes finos se encaixam melhor no que é ditado pelas capas de revistas e que isso deve ser seguido, como um cordeiro, alguns aceitam os padrões e os seguem se escondendo, se inferiorizando. Outros se libertam desses e respondem: Não! O cabelo também pode ser uma forma de resistência!
Meninas de cabelos encaracolados ou crespos, vão à escola e criam a idéia de que não são bonitas devido aos cabelos volumosos, escutam as piadas sobre o cabelo crespo, aprendem com os contos de fada que as princesas e seus cabelos lisos, ruivos ou loiros é que conseguirão um príncipe encantado e crescem sem se aceitar, se sentindo diminuídas.  É muito dolorosa e triste, a não aceitação de si mesmo, principalmente, quando se inicia uma busca pelo que não é e se esquece de conhecer, valorizar e desfrutar dos pontos positivos da sua identidade. Aceitando as leis ditadas pelo mundo fashion, de geração em geração, se perdem costumes, raízes e cultura. Para que isso mude, é necessário se conhecer.

Não há aqui, nenhum julgamento em relação à quem usa algum recurso químico para mudar o cabelo, afinal, todo ser é livre,  entretanto, sugiro, que antes que seja feita alguma mudança, avaliem os reais motivos desta. Se for somente por padrões impostos e que te desvalorizem, quando o resultado deveria ser outro, tenho uma dica:
" Faça a diferença, liberte-se e resista"


Em terra de chapinha quem tem cachos é rainha, dê um basta a escravidão do liso obrigatório!





Por Aline Souza

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Coletivo Meinhof

Bem vindo ao Coletivo Meinhof


O Coletivo Meinhof nasce no coração da periferia do Campo Limpo, bairro da Zona Sul de São Paulo, a partir da necessidade de dar importância à periferia, seus costumes, a valorização de sua cultura e do povo que ali vive.


Sua missão é despertar em cada indivíduo a busca e o conhecimento maior em relação à suas raízes, a valorização de sua cultura e o reconhecimento de sua importância na sociedade, quanto homens e mulheres.


O nome Meinhof, é inspirado na jornalista, escritora e ativista alemã Ulrike Marie Meinhof, ou apenas Ulrike Meinhof e em suas atividades realizadas junto ao grupo RAF (Fração do Exército Vermelho).

"Protesto é quando eu digo que algo me incomoda. Resistência é quando eu me asseguro que aquilo que me incomoda nunca mais acontecerá" Ulrike Meinhof.

Acreditamos na resistência periférica e lutamos por ela.
Então, entre, sente-se ai, tome um café conosco e sinta-se á vontade para ter contato com os mais diversos temas, que vão desde política, ativismo, feminismo, arte e música até alguma receita de chá para o inverno.