segunda-feira, 6 de maio de 2013

Som de Preto





Me lembro que em 2011 em um show do Marcelo Yuka, que aconteceu em São Paulo, no evento Black na cena, ao falar sobre o funk carioca, esse gênero musical que é tão nosso e que muitos ainda tentam repreender, Marcelo Yuka disse que ele dominaria a massa, a elite e que no futuro, em alguns anos, chegaria a atingir o mesmo nível que o samba, afinal, ouvir samba hoje é pra quem tem cultura, mas quando o mesmo nasceu lá no morro, não era e assim como o funk carioca, também foi repreendido.

Não é raro se deparar nas redes sociais, no decorrer do dia, nos comentários do metrô ou no olhar reprovador das pessoas, o preconceito contra o funk.
Entre os últimos exemplos abertos que tivemos disso, podemos citar os comentários da jornalista Rachel Sheherazade que além de falar sobre o gênero musical definindo-o como  Funk carioca, que fere meus ouvidos de morte, foi descrito como "manifestação cultural".
Além disso, a mesma acha um absurdo o fato das classes C e D "popularizarem" os centros acadêmicos. O que mais me surpreende é o fato de que essa jornalista, trabalha para um público que pertence a essas classes sub-jugadas.



Além do fator, discriminatório das letras, ainda acontece a discriminação em relação a quem ouve o gênero musical, que ou é classificado como traficante ou ladrão, e no caso das mulheres como prostitutas, vagabundas, ou com o termo piriguete que hoje engloba tudo isso, aquele termo que a Rede Esgoto Globo de televisão insiste em reforçar nas suas novelas e programas como Lixo Zorra Total.

A elite da cidade de São Paulo, em especial, parece querer que todo o mundo
caminhe dentro de seus padrões, envolvidos em músicas de Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius, e que não tenham a liberdade de criar sua própria forma de expressão. Isso vem de uma cultura que começou com os negros que não podiam ter suas próprias crenças no passado, e precisaram se adequar ao cristianismo. O que mostra que ainda vivemos em um ritmo de repressão e nesse caso, de segregação sonora.
Um exemplo disso é que reclama do barulho que o baile funk causa, e quando alguém pensa em criar barracões como os do Rio de Janeiro, para esse tipo de evento específico, reclamam do fato da criação desse espaço, mas diz que todos deviam ter acesso a cultural. A cultura de quem? A da elite apenas?
É a mesma galera que tem medo que o metrô em Higienópolis leve gente "diferenciada" ao bairro, mas sempre fala que o metrô aqui devia ser como em Paris que percorre a cidade inteira e nunca se muda definitivamente pra lá.
A elite de São Paulo está é com medo, por que gosta de ditar as regras, e parece que a periferia está fugindo disso, falando sobre a própria e sua própria cultura. A elite parece não gostar de saber que há outro universo além de seu próprio umbigo.

Entende-se que em alguns casos, as letras do funk carioca não são tão boas, e podiam ser melhor aproveitadas, e mais ações podiam existir em prol dessa descaracterização negativa do gênero. Acredito e torço para que elas venham logo. Quanto aos que reclamam, se incomoda tanto, não seria digno sair um pouquinho das baladas de terça-feira e ir até a favela dar aulas de música, incentivar leitura, arte e lazer para agregar mais coisas ao que já se têm por lá?



Esse movimento contra o funk, é o mesmo movimento que aconteceu contra o samba, contra o rap, contra o axé, contra o tecnobrega, e contra tudo o que nasce na periferia. Hoje uma parcela da elite frequênta shows em grandes casas que recebem artístas como Criolo, que antes era Criolo doido, Black Alien, Marcelo D2, Emicida, Bnegão ou Racionais, mas se esquece, que aquilo também é música de negro, nascida do morro. E ainda acham o máximo tirar onda de "favelado", mas se cagam só de pensar em entrar na biqueira pra comprar pó.

É som de preto, de favelado, mas quando toca, ninguem fica parado
Som de Preto - Dj Marlboro







Crédito das fotos: “Totoma! – Imagens do funk carioca” no Sesc Tijuca

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